Ana Vífer

Ana Vífer

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Ser bom é ruim, ser bom é bom.

Não quero afirmar de maneira nenhuma que as pessoas boas não cometem erros. Geralmente, elas comentem erros consigo mesmas. Caem no conto do vigário, acreditam em qualquer balela vinda das pessoas que gosta, tentam ser prestativas e saem como intrometidas, ouvem mais a voz da emoção e por isso são sempre as mais atacadas.
Uma pessoa boa se sente mal ao ouvir alguém deduzir coisas ruins sobre outra, pessoas boas lembram de aniversários, deixam de fazer coisas importantes para si mesmas e fazem as coisas para os outros. Pessoas boas gastam com amigos e generalizando, pessoas boas sempre são as mais entristecidas.
Pessoas boas acreditam em um testemunho, e até que provem o contrário, continuarão acreditando.
Geralmente essas pessoas são deixadas de lado, são esquecidas, não são bem-vindas. Desconfiam da sua bondade, e a sua falta de malícia aterroriza as pessoas que tem um coração contaminado.
Essas pessoas só são solicitadas quando precisam delas para preparar um evento, para emprestar dinheiro, para escutar uma queixa, para defender alguém, para fazer um favorzinho. Mas para algo que a faça bem e que a divirta, não.
Pessoas boas tem boa fé. Pessoas boas só querem uma coisa de volta, a bondade. Não por merecimento, mas por acreditar que isso é bom e é o certo a se fazer.
Quando formos analisar alguém, devemos em primeiro lugar descobrir se ela é boa, porque sua bondade inclui uma série de fatores como amor, misericórdia, compaixão, sensibilidade, altruísmo, fé, justiça, coragem e senso de prioridade.
Muitas vezes alguém bom vai ser duro, mas com o propósito de ensinar o que sabe a quem ama. Muitas vezes alguém bom vai parecer injusto por defender alguém, mas ele tem sensibilidade pra detectar a fraqueza de quem errou. Algumas vezes alguém que é bom vai se sentir sozinho e vai esperar uma boa ação de alguém ao seu favor e não vai encontrar. As pessoas boas são constantemente julgadas porque elas tem erros como todo mundo, mas tem traços de bondade, e infelizmente muitas pessoas não sabem separar o que é ser um humano e o que é ser um anjo.
As pessoas boas continuam humanas, continuam se deixando seduzir por um pouco de amor, continuam sendo vítimas de armadilhas do destino, continuam vacilando por possuir pouco cuidado consigo mesmas. E elas vão continuar assim, porque essa é a essência delas.
Tenho refletido muito sobre isso há dias e me permiti ser mais compassiva, mais do que já sou. Eu sou daquelas pessoas que se alguém diz "ela é feia", rebate dizendo "a beleza está nos olhos de quem vê".
É triste que estejamos uns julgando e nomeando as pessoas sem nenhum pouco de bondade. É feio que estejamos classificando ainda pessoas por classe social e nível de cultura.
Eu não era uma pessoa boa, mas um dia alguém foi ruim comigo e eu vi o quanto era triste ser injusta, desconfiada, sarcástica, egocêntrica, irônica, maldosa. E no meio das minhas lições sobre bondade, eu vi que é mais difícil ser bom do que ser ruim. Ser bom dói.
Eu percebi o quanto é ruim se sentir renegado, o quanto é ruim dar e nunca receber em troca. Mas vi também como é compensador para a consciência ser uma pessoa melhor a cada dia.
Ainda estou aprendendo, é mais difícil do que eu imaginava. Existem tantos altos e baixos nisso.
Calar a boca quando está prestes a difamar, fechar os olhos para aquilo que não me diz respeito, repensar um ato, discordar de alguém que tem a língua maldosa e pagar o preço disso.
Descobri nessa jornada que muitas e muitas das pessoas boas não deixam isso transparecer na aparência, ser bom requer modelagem interna e não externa. Algumas pessoas "engomadinhas" vão praticar atos de maldade sempre que tiverem a oportunidade, porque ao olhar no espelho elas se sentem boas demais, mas não olham para dentro de si.
Quando você não se encaixa em "padrões" você é obrigado a olhar para dentro e descobrir o que há de realmente bom em você.
Ser alguém melhor leva tempo, cansa, fatiga o corpo e a mente. Ser alguém melhor requer experiência com algo mais elevado, ser bom requer lágrimas, perdão, falta de sossego com algo de ruim que fez, requer voz para se desculpar e principalmente, requer recolher o ego e amar mais as pessoas.
Para ser melhor é preciso aprender a dividir, a não amar mais o que tem do que as pessoas. A não ficar morrendo de medo de alguém estragar o que é seu mesmo vendo a necessidade daquela pessoa, e saber que mesmo que alguma coisa dê errado com o que foi emprestado, valeu a pena ajudar.
Como eu pude ter demorado tanto para aprender essas coisas que me foram ensinadas?
Eu mesma tenho a resposta: é mais fácil ser alguém ruim.
Ser ruim não causa culpa, não dá remorso. Ser ruim infla o ego, dá a sensação de superioridade. Ver alguém chorar ou implorar para que você pare de falar, pare de xingar, pare de magoar é como ter poder sobre o sentimento das pessoas, você se sente mandando.
Ser ruim te dá menos escrúpulos, menos cargas no final do dia. Ser ruim dá uma cegueira agradável, uma voz persuasiva, convincente. Exige mais razão, menos emoção, te faz competitivo e malandro.
Mas ser bom é mais compensador. No final da vida, é melhor ver menos amigos e mais amor do que mais amigos e mais falsidade. No final da vida, as mãos estarão limpas e o coração sossegado, sensação de missão cumprida.
Para encerrar, quero ditar um homem cujo nome era Jesus, Ele é o maior exemplo de bondade que já existiu e existe. Sendo quem é, poderia ter dado um rumo diferente para a sua própria história, mas Ele preferiu ser bom, manso e humilde. Nunca serei como Ele, nunca seremos. Jamais conseguiremos imitar seus feitos com exatidão, porque Ele pertence a uma outra classe de ser, que não é humano.
Mas sempre que um de nós for cometer o grande erro de ser ruim, pensemos com a cabeça de Jesus e eu garanto que a primeira coisa que mudará é a nossa maneira de observar alguém que está ao nosso lado.
Lembrando que ser bom não é ser burro, não é se deixar ser enganado, mas é preferir racionalmente ser mais sentimental e mais sensível às deficiências alheias.

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