Ana Vífer

Ana Vífer

sábado, 27 de julho de 2013

Hoje...

Hoje eu só queria a liberdade.
Ser livre da sociedade que malda, dos contratempos que aprisionam, da superioridade de quem me sustenta, das más condições financeiras, do tempo que determina, das horas que não passam, da raiva que corrói, do medo da solidão, do sentimento de mãos atadas, da minha própria impaciência, da minha ineficiência. Hoje eu só queria poder escolher mais, ser menos dependente. Hoje eu só queria poder chorar até desidratar, não escutar de ninguém que é bobagem e que meu motivo é pequeno. Hoje eu só queria a melhor companhia que eu tenho na minha vida bem pertinho de mim. Eu sou um ser dramático e dependente das vontades do meu coração e não me importo em sofrer por saudade, eu me sinto humanizada por me desesperar ao querer. Enquanto tanta gente descaracteriza o amor, eu continuo preferindo o inocente, puro, sofredor, incansável e genuíno amor.
Hoje eu queria ter asas e não dizer o destino do meu voo, nem o ninho onde eu quero ficar. Hoje eu queria ficar invisível para o mundo e visível somente pro meu amor.
Sei que amar é luta diária e constante e que às vezes o dia simplesmente te nega o prazer de estar perto, mas só quem sente o buraco no peito e a falta de ar, a vontade de se encolher e de se calar sabe como é querer.
Hoje eu queria poder ordenar "que haja possibilidades", ou simplesmente me despreocupar de vez. Mas a segunda opção é simplesmente inviável quando meus olhos procuram em volta e não conseguem encontrar aquele que tem o poder de alegrar meu dia.
Hoje eu queria não ter que esperar pelo dia de amanhã, mais do que ouvir a voz dele, estar com ele.
Hoje eu queria a minha própria vontade, só o meu desejo. Hoje eu queria um beijo.
Hoje eu queria estar rindo, mas só estarei feliz amanhã... Por um curto espaço de tempo, porque o tempo nunca me perdoou e nem me favoreceu.
Hoje eu só queria estar nos braços daquele que também me espera, como é injusta a espera... Hoje eu queria muitas coisas, mas a única que me sobrou foi eu.

Cantar.

Do fundo do meu peito, com os pulmões cheios de ar. Da minha cabeça cheia de intenções e tantas outras interações. Das minhas fossas nasais, que se transformam em poços de límpidos. Das minhas costelas, que se abrem e fecham como asas. Da minha garganta, das cordas que toco com os ares como mares correm vibrando e vibrando, ecoando pelas bochechas, acariciando o céu da boca. Minha voz.
Quando eu canto, exijo de mim, exijo do meu corpo seu trabalho mais esforçado. Técnicas, talvez se confundam tantas vezes com meu extinto de viver pra cantar. Cada nota que meus lábios de ajudam a amplificar, somada as palavras me trazem a dimensão exata do prazer que é cantar.
Cantar e ver o ventre estufando, as mãos ajudando a lembrar os acordes, os pés dançando, e a mente contando o tempo. Meu corpo canta, elabora o grave em meio a minha face, distrai-me com os agudos vindos do meu diafragma. Cantar é espiritual, o canto toma dimensões inexatas às nossas percepções humanas.
Pra mim cantar é o que me salva todos os dias, é a certeza de que eu sou boa em alguma coisa. Solo ou em grupo, eu sei que ainda há muito a percorrer. Desbravar a simplicidade, explorar o mais complicado, criar meu estilo, usar meu timbre que é minha digital.
Eu nunca vou me cansar de aprender a minha voz e aperfeiçoá-la, simplesmente por ela não me pertencer, mas ser dádiva do Mestre para Ele mesmo.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Menos ácido!

Vivemos contando passos alheios, recrutando métodos de conduta. Vivemos calculando atos de sobriedade e bom caráter.
Vivemos cobrando transparência, cobrando menos hipocrisia, menos falação, menos julgamento. Vivemos lutando para que todas as pessoas sejam exatamente como nós somos. Queremos viver rodeados de pensamentos iguais ao nossos, mesmas causas, mesmas lutas, mesmos assuntos, mesmos dilemas, mesmo sonhos e consequentemente, menos identidade.
Nós sempre queremos uma sociedade perfeita, mas somos incapazes de nos cobrar pela nossa maneira de pensar. Eu mesma, se pudesse, teria pessoas com cérebros funcionando exatamente como o meu funciona, viver rodeada de pessoas parecidas comigo.
Nós somos pequenos e nossa pequenice é expressa na aversão pela diversidade. As pessoas deixam de gostar por discordar de alguém, deixam de amar por não aceitar a criação de alguém, deixam de querer porque não aceitam os pensamentos de alguém. E o pior de tudo, deixam de respeitar os desejos das pessoas simplesmente porque discordam.
É normal discordar daquilo que fere, que é ilícito, que é feio, que é violento, que prejudica os outros... Discordar de coisas assim demonstra bom senso. Mas é ruim que ainda estejamos discordando de personalidades, como elas pudessem ser mudadas pelas nossas mãos. Como se pessoas fossem feitas de massinha de modelar, onde empregamos nosso estilo de vida nelas, fazemos delas androids programados para ser uma cópia de nós.
Por experiência própria descobri que os que mais criticam, são os maiores alvos de críticas porque abrem precedentes pra isso, simplesmente colhem o que plantam. Hoje me policio para criticar menos, para me calar mais, aprender com o silêncio. Deixo minha malícia e minha crueldade serem abafadas e mortas pela minha sensibilidade e compreensão. Aprendi a requerer menos das pessoas, porque elas são o que faz o mundo ser completo. Tem sempre alguém que gosta da pessoa que você não gosta, tem sempre alguém que vê beleza naquele que você não vê, tem sempre um que seja, que é atraído pela personalidade que te irrita e tudo isso porquê ninguém precisa ser igual a ninguém, é justamente o contrário, cada um precisa ser o que realmente é e se auto-aperfeiçoar por si mesmo e não para se moldar a qualquer opinião ignorante (pelo fato de conhecer pouco) que seja.
É nessa perspectiva que chegamos ao princípio de que quem andará com você, andará por gostar de quem você é e mesmo vendo algo que incomode, suportará por gostar de você.
Não sejamos sombrios, não tenhamos tendência a humilhar ninguém, não sejamos críticos demais, não sejamos o tempo todo maliciosos. Vamos desconfiar na medida certa, falar do que vimos e sabemos de fato, e se por acaso surgir uma crítica, que seja sobre quem realmente conhecemos a fundo.
Ninguém sabe com perfeição as intenções de ninguém até conhecer bem. A acidez dos nossos pensamentos deterioram nossa personalidade.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Eu e meus amigos...

Andei pensando sobre essa coisa de amizade, descobri que tenho poucos amigos.
Uns passaram e deixaram um amor enorme dentro do meu coração, outros nem faço questão. Alguns amigos lembram de mim sempre, sabem minha cor preferida, o que me chateia, o que me faz entrar numa briga, mas não estão dispostos a respeitar meu tempo necessário de silêncio.
Outros não sabem muito quem eu sou, só gostam de estar por perto e descobrem fácil quando preciso e quero ficar sozinha.
Amizade é tão relativo. É dolorido quando algum amigo fala nas suas costas algo que você entenderia se fosse falado com amor diretamente pra você. É ruim perceber que deixou escapar segredos pra quem não merecia sua confiança. É difícil continuar a amar pessoas que te decepcionam e mesmo assim, continuar a amar. Não mais admirar, só amar.
A vida foi limpando meus círculos de amizade e foi me dando ciclos de amizade. Amizades vem, duram um tempo, vão embora, mas me sinto bem porque sei que dei o melhor de mim.
Não gosto de ficar grudada, nem gosto de ser muito visitada, também não gosto tanto de visitar. Não tenho assunto o tempo todo, não estou acostumada a bajulação, nem sempre vou bajular.
As pessoas querem fazer da amizade um relacionamento, um compromisso... é como monopolizar um órgão livre e eu não consigo viver dando explicações o tempo todo, não gosto de cobrança de amigo.
A amizade é difícil pelo simples fato de que nada o compromete, a única coisa que te move a manter a amizade é o amor.
Sei que quem me ama me aceita do jeito que eu sou e consegue me entender e me ler, me respeitar e entender seu lugar em minha vida, entender a hierarquia dos meus sentimentos, das prioridades que eu já organizei.
Eu sinto falta de amigos que me fizeram mal, mas que nem sabem que eu soube do que me fizeram. Sinto falta de gente que não tive tempo de criar um laço bem forte que ultrapassasse o tempo e a distância. Sinto falta de pessoas que não tem boas influências pra mim e por ordem de prioridades, tive que escolher a minha integridade.
Sinto falta até de quem não conquistei e não vou conseguir conquistar, porque já me rotularam, já me sentenciaram e não querem descobrir além do que criaram em sua imaginação.
Só uma coisa me tranquiliza, os raros amigos que me sobraram estão sempre comigo, sempre e sempre me entendem e sempre vão ver além dos meus T.O.Cs, das minhas críticas, da minha timidez, da meu olhar de menina metida, do meu namoro que está em um ranking alto na minha lista de prioridades, da minha casa humilde, da minha falta de dinheiro, da minha falta de abraços, do meu passado conturbado e de tudo o que poderia estragar um sentimento de amigo.
Conto minhas amizades nos dedos das mãos, talvez de uma mão só. Alguns são do meu sangue, mas não conseguem ter uma amizade verdadeira comigo, outros são amigos dos meus amigos e são obrigados a conviver comigo, eu sei bem de tudo isso.
Mas quando penso em tudo o que os meus verdadeiros amigos fizeram por mim e o quanto me valorizam, eu sei que atingi um patamar absoluto de conquista pessoal.
Por isso, eu aconselho: ame seu amigo, mas deixe-o livre, espere ser solicitado, não seja invasivo. Respeite a educação que ele recebeu, acompanhe ele na caminhada da vida sem ficar tirando todas as pedras que aparecerem no caminho dele. Descubra o que ele quer de você, mas se você não for capaz de dar, converse e diga que não pode. Seja extremamente sincero, mas procure nunca machucar com suas palavras. Se cansar, dê um tempo. Se sentir falta, ligue. Pergunte coisas, esclareça fatos. Amizades verdadeiras são raras, as minhas são.