Ana Vífer

Ana Vífer

quarta-feira, 21 de março de 2012

De bico calado


Desculpa se eu sou assim. Eu odeio esse lance de pedir desculpas, mas não faço nada de propósito para aborrecer quem quer que seja. Eu mesma às vezes me confundo comigo, perco a noção do perigo e fico avessa, contrária.
Impossível saber o que vem depois quando se trata de mim, qual será o próximo passo, prever meu destino. Meu jeito dá errado, dá defeito, tem efeitos que nem eu consigo entender.
Minha feição às vezes sóbria demais, carrancuda, ou triste quase nunca quer dizer um sentimento negativo. Não se trata de deprimir, é só meu jeito de pensar. Silenciando é como eu conduzo as coisas sérias da vida, cara de Monaliza é sinal de sossego, sinal de junção do quebra-cabeça que é estar do lado de alguém.
Não consiste em qualquer esclarecimento, porque está tudo em seu devido lugar, não há nada de errado e se estiver, quebro meu silêncio e não deixo de expressar.
É que eu aprendi que o silêncio ajuda a não perder o rumo, que evita palavras que doem e ameniza minha opinião sobre tudo. Para que o amor não sofra dano, às vezes é necessário calar.
Segredos meus, coisas minhas, não quero dividir, não vou dividir... talvez faça mal, mas ainda prefiro ser complexa e agradável escondendo aquilo que não acrescenta de modo alheio só pra mim.
Para me entender basta me fechar em um abraço, me envolver com os olhos, usar as palavras que tantas vezes não sei para que servem e talvez elas só façam sentido vindas desses seus lábios.
Porque sentir algo por alguém que não conhecemos tanto requer se conhecer muito. Sábios dizem que calar é precioso, e dos valores possui o mais elevado.
Calar te faz repensar, escolher melhor o que dizer, o silêncio te faz sábio e é assim que eu prefiro ser.
Não imagine que meu sentimento é menor pela falta de declarações ou quando as expresso, deixo cômico aquilo que era para emocionar. Não se incomode com minhas frases pensadas, não sei deixar espontâneo esse lance de amar, eu amo assim e isso deve ser errado, mas eu amo desse jeito pacado, maroto, desligado, tem cheiro de maresia, consegue sentir?
Talvez eu seja dependente de atitudes que não são minhas, talvez seja papel seu me fazer falar, me fazer volúvel, me fazer entregue. Sem teu empurrão, eu vou continuar no mesmo lugar.
Eu que aprendi a fincar meus pés no chão, racionalizar e contextuar a paixão, não aprendi através de ninguém ainda me perder e me deixar levar.
Deixa tudo guardado aqui, lapida no aço do tempo uma chave de mim, abra, entre e jura contente que vai ficar entendendo que quando estou de bico calado é porque muito mais meus olhos podem falar.

terça-feira, 20 de março de 2012

Bagagem


É claro que quando você já tem uma bagagem tão cheia de experiência, algumas coisas você aprende a não considerar. Você aprende a não mergulhar tão fundo, não usar textos incertos, a não persoadir sem que o foco seja certeiro.
Quando você deixa espaços, você desfaz certas esperanças e cria as que realmente necessitam ser criadas. Parece que nesse momento você começa com o filme monocromático e vai colorindo a medida que o infinito vai aparecendo, não permite mais roteiros dramáticos.
Não por falta de querer, não por medo ou insegurança, mas por coragem de admitir que existe um "sim" e um "não" para todas as coisas.
É como se seu esforço estivesse em manter seu coração livre de dores e aberto ao sentimento, se equilibra, cresce. E dar segurança mesmo sabendo que como se chega, também se pode partir.
Não sou mais menina, nem tenho grandes ilusões, tenho sonhos sim e desejos não me faltam, mas eu sou a protagonista de mim, escrevo por mim.
Talvez sejam informações demais para assimilar, pensamentos soltos que não fazem sentido para quem apenas lê, eu sei que a confusão de idéias faz parte de mim e que quero juntá-las todas em um texto fragmentado. Mas eu preciso dizer, eu preciso exibir cada pequena parte de um sentimento que mantenho firme até que eu seja quebrada, desmontada da minha segurança. Até que eu seja capturada, até que em mim não haja mais reserva e nem proteção, até que eu me renda, eu mantenho os pés fincados na certeza do que pretendo.
Até que me desfaleça o amor, retenho minhas emoções e me enveneno delas em pequenas doses para não sofrer de uma vez e nem ser feliz sem ter o que contar.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Abraçar o mundo...


Tu quer abraçar o mundo sem saber se o mundo quer ser abraçado, tu quer agradar a quem não precisa e faz mal a quem te queria por perto. Faz tudo errado buscando o certo, não tem noção das tuas outras conquistas, só se concentra naquilo que ainda não tem, não sabe dividir eu coração entre passado, presente e futuro e ainda se acha no direito de reclamar da vida. A vida não errou contigo, é você que não é sábio ao usá-la.

Eu que disse.

terça-feira, 13 de março de 2012

Oração do dia.

Ficar aqui parada não vai adiantar nada, está na hora colocar meus joelhos no chão.
Olhar pela fechadura, espiar bênçãos... Isso não existe. Mas a minha chave vem na insistência da oração.
Eu não vou cair outra vez, Te decepcionar, Senhor, porque eu Te amo e não quero vê-Lo se retirar de mim outra vez. Te quero aqui, Te quero sempre, em tudo o que eu fizer, cada dia que eu acordar, cada pessoa que eu conhecer, cada relação que eu estabelecer, não quero viver nada sem a doce presença do Espírito Santo.
Sabe, Senhor... Tuas promessas ainda latejam em mim, sinalizando assim o cumprir de cada uma delas. Mas como agir? Nem mesmo sei em que barco estou navegando, se sigo, se volto, se estaciono aqui e espero o Senhor soprar a minha vela.
Este mar não está revolto agora, Deus, mas temo que possa ficar. Já me machuquei feio tantas vezes, Jesus. Já chorei demais, tanto que hoje choro pouco, ou nada. Vivenciar algo conturbado me deixaria cansada, exausta como eu já estou de tentativas frustradas.
Olha, Jesus, a minha vida é totalmente Sua e não há outra direção que eu queira tomar que não seja a que o Senhor traçou para mim. Dessa vez é diferente, Jesus... Não te conheço superficialmente, eu vivo cada dia buscando Te conhecer mais e me aprofundar em Ti. Dessa vez, Jesus, não vivo mais eu, mas o Senhor vive em mim.
Dessa vez meu coração não me engana mais, porque o Senhor dá ordens a ele para que apenas imprima no pulsar a vontade do teu doce Espírito. É por isso, meu Deus, que espero de Ti todas as estratégias, todas as palavras e atitudes para ser canal de bênção e salvação e além disso, saber vigiar.
Anda na minha frente, Senhor. Abra a passagem e seja meu conselheiro cada vez que eu Lhe perguntar algo, porque simplesmente não sei o que fazer.
Jesus, não me desampare, não me deixe cair e nem me enganar, mas fala ao meu coração para que eu possa agir como aprova o Teu coração.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Uma das minhas descobertas pessoais.



Agora eu me olho no espelho e vejo uma mulher bem resolvida consigo mesma, que não reclama mais do corpo e apesar de ficar doida com os cabelos, aprendeu a lidar com eles.
Gosto de algumas linhas de expressão mesmo e sei que isso soa estranho, mas é que eu dei muita risada e chorei bastante também. Já tomei muito sol, apertei os olhos pra enxergar e alguns pequeninos pés de galinha apareceram.
Agora eu não tenho mais medo de achar minha barriga bonita e me acharem metida por causa disso. Sei também que tenho lábios,curvas, pés e mãos muito atraentes, que de manhã eu fico bem feia com aquele aparelho móvel e touquinha no cabelo pra não enrolar e que eu devia ter cuidado mais da minha pele, evitaria essas manchinhas do sol.
E eu tenho um monte de celulites e estrias mesmo, idaí? Tem gente que não tem pernas. E sem progressiva meu cabelo fica armado mesmo, idaí? Tem gente que é careca.
Agora eu sei que tenho um papo agradável, que sou pensante e que posso proporcionar bem-estar tanto quanto estou apta a receber.
Aprendi a olhar nos olhos, a dar carinho, a ouvir mais do que falar, a entender e aceitar as pessoas. Hoje eu sei me impor quando for preciso, não deixo mais me pisarem, mas isso não quer dizer que eu tenha que ser grossa. Isso também agora eu já sei.
Organização, força de vontade, coragem, simpatia... Isso também não veio em mim, tive que aprender.
Sei não vulgarizar o que eu tenho de muito bom, aproveitar minha solteirisse de maneira saudável, cultivar amizades duradouras e me preocupar menos com o homem da minha vida, ele vai chegar.
Que as minhas amigas, leitoras, aquelas que gostam de mim e as que não gostam também aprendam essas coisas no seu tempo e da maneira que suas vidas lhe derem a oportunidade. É muito bom se amar como um processo natural, se admirar com humildade.
Para os homens me curtem também, que vocês saibam encontrar mulheres e não meninas. Vocês sabem que erram quando encontram garotas e não encontram nelas a maturidade que gostariam e depois machucam elas descartando-as. Deixem que meninos estejam com meninas, aprendam a ser homens e conquistem uma mulher para a vida toda.
É bom aprender.

segunda-feira, 5 de março de 2012

Guerra fria


Você fala nas entrelinhas, eu repito esse ato falho na esperança de ser entendida. Eu infantilizo isso, porque não sei mesmo como agir.
Virou uma guerra fria, todo mundo sabe, menos nós. Todo mundo tem uma opinião, eu e você não.
Tantos tratados de paz quebrados pelos nossos lábios, tantas alianças de território desfeitas porque fomos fracos demais para parar por ali e para aprender a conversar ao invés de fingir sempre que nada nunca aconteceu.
Era pra ter sido simples, mas complicou tanto que por fora continua simples, mas por dentro, revirado está.
Eu aparento não sentir nada pra não invadir você, eu ando sozinha e dou sempre a entender que consigo assim e que está tudo certo por me preocupar comigo e estar acomodada com isso.
Eu não preciso disfarçar, mas essa minha diplomacia é tão cruel quando insiste em ficar!
Sinto muito, mas agora vou ter que começar a atirar pelo meu próprio bem, pra sobreviver, pra não camuflar mais nada e não ser mais uma mulher sufocada. Não existe segredo e nem mistério que nos prenda à conquista, agora é guerra mesmo! Eu combinei com os meus pensamentos e sensações que seria assim, pacífico como é, mas tenho mais que envolvimento pra dar, tenho tantas outras armas, agora não quero explicar.
Nosso convívio atesta que eu não mais quero, minha boca saliva por querer. Tudo encoberto, todos esses traços de frieza feitos por cautela e medo de ser senhora de uma batalha.
É bom que tenha muitos escudos, tenho no desenho do lábio artifício perfeito para capturá-lo.

sábado, 3 de março de 2012

Encostar

Eu ainda não aprendi a pedir nada.
Continuo achando que às vezes perder é o melhor destino.
Ainda não sei aonde estou. Ainda tudo é saudade... e seja lá o que for.
Minha vida vai fazer quantas curvas forem necessárias, só quero que a sua cruze com a minha.
Eu ainda quero a arte de te roubar no meio da tarde pra não fazer absolutamente nada, essa é a minha cleptomania de você, roubá-lo só para ter, por pura satisfação de possuir. É isso.
Ainda não mudei, acho que nem quero mais mudar, ainda quero procurar todos os meios, acasos, segredos, contratos, mentiras, boatos, sorrisos e espaços que me levem até você ou que te tragam até mim. Já não importa mais quais serão os veículos, contanto que você ainda seja o ponto final.
E quando você me chama, eu acordo do sono mais profundo, eu deixo tudo, eu deixo a alma escutar sua voz e eu me encontro, porque sem você, meu anjo... Nunca sei onde eu estou.
Resisto a todos esses imensos segundos de vida, quando a sua ausência é gritante e eu não sei onde ir me lembrando que sempre e sempre nesse labirinto nossas vidas tem uma só saída.
Por mais que eu não sonhe com o eterno, sonho com um instante e ele só já me faz feliz. Encosta, gruda, enrosca e passeia por mim.



*Releitura de "Encostar na sua" - Ana Carolina

quinta-feira, 1 de março de 2012

Indolência


As coisas mudaram por aqui e tudo mesmo assim, parece igual.
Minha indiferença é quase palpável, como se eu pudesse tocar minha falta de sensibilidade, como se eu estivesse docemente mentindo para cada um desses detalhes, acho que estou me escondendo dentre os vãos que a inexistência do impulso me deram. Talvez eu só esteja sendo cega por uns momentos, enquando as coisas não mudam com força do lugar, talvez seja isso.
Não sei mais se quero voltar a ser intensa, talves minha inércia seja boa, talvez minha indolência seja só o que eu precisava pra roubar meu sossego das suas mãos.
Quem sabe eu esteja me perdendo? Ou talvez esteja me encontrando.
Eu sentia saudade, agora não sei mais o que significa essa palavra, eu sentia desejo, agora não sei mais como é o gosto disso.
Acredite, isso não está me fazendo mal, talvez faça mal quando eu acordar desse sonho da liberdade de querer e de gostar. Seja lá o que for esse buraco, me sinto alada, me sinto esvoaçante, me sinto simples, me sinto serena. Seja qual for o nome dessa sensação, seja lá quanto tempo isso vai durar, sei que pés no chão hoje não são para mim.
Não me sinto encantada, nem apaixonada, nem fascinada... Eu não sinto nada, é um vazio gostoso de sentir, porque ele não dói. Me pergunto até quando vai durar, porque coisas assim não duram muito tempo, sempre alguém ou alguma coisa vem para preencher.
Mas eu quero sair assim, de papo pro ar, sentindo o sol arder na pele como se amanhã fosse um pedaço da vida para não se pensar, esquecendo aos poucos de ti. Perder a noção do tempo comigo mesma, de fones no ouvido, esperando um trêm que me leve pra qualquer lugar onde a paisagem me faça lembrar cada vez menos que tenho você pra me lembrar.
Está bom assim, está bom pra mim... Ser mais livre de mim, mais senhora de nós.