Ana Vífer

Ana Vífer

sábado, 23 de abril de 2016

Gente que a gente gosta

Existem pessoas que gostamos e pronto. Gostamos porque gostamos e a resposta sempre é "porque sim".
É porque a risada tem um som delicioso, que faz cócegas nos ouvidos.
É porque a voz cantada tem toque de pelúcia.
É porque os cabelos fazem cachos que são caracóis de Roberto na voz de Caetano.
É porque se comunica com os olhos.
É porque entende todas as caretas.
É porque tem um abraço que envolve toda a alma.
É porque é gentil em meio a crise.
É porque compartilha, porque vive junto, porque não dispensa nunca.
É por causa da firmeza quando fala, porque soa bem.
É por causa da diplomacia, da paz de espírito.
É porque os pés tem dedos redondos.
É porque tem o mesmo sangue, a mesma fé, o mesmo amor.
Existem pessoas que amamos, amamos muito. Amamos "porque sim".
Amamos porque mora longe, mas fez casa dentro do nosso coração.
Amamos porque é tão diferente, mas é tão igual.
Amamos porque não tem explicação a ligação que a vida fez.
Algumas pessoas amamos tanto que fazemos a mágica que não deixar o tempo afastar.
E tem aquela pessoa com quem vamos ao altar e dizemos "sim".
Tem gente que é porque tem problemas que a gente gosta de cuidar.
Fez casinha no topo da nossa árvore da vida.
Existem pessoas que carregamos num patamar de eternidade... sem qualquer explicação detalhada.

Visceral

Eu não consigo conter, mais do que a superfície, eu vou até as vísceras.
É o bombear do sangue, glóbulos vermelhos e brancos numa dança flamenca.
É a pupila dilatada, a imagem captada em um zoom, é decifrada em segundos pelo cérebro que aciona tudo, liga tudo, encharca, entumece, faz eriçar.
É o estômago borboleteando, suco gástrico vulcânico.
É o paladar, as papilas gustativas enroscando-se em gosto de quê?
Deveras, amor, é químico. É arma biológica.
O que mais não consigo conter é que além de uma plataforma, eu vou até o cerne.
É o amor.
O amor que contorna os lábios num batom.
O amor continua intacto após tantos cactos que nascem no solo da relação.
O amor que desqualifica o temporário, dá lugar ao eterno sem contar cada dia que passa.
O amor que é novo, mesmo assim, faz 10 meses, 10 anos.
O amor é que é visceral, é ele que arde nas entranhas.
Paixão toma vida como uma planta, qualquer relva mata, qualquer inseto come, qualquer pisada esmaga.
O amor não é isso, o amor é o sol... compreende-se por si só, poderoso e imponente regente.
Por isso não consigo me conter, por isso não posso segurar.
O amor me deu a tão sonhada liberdade de me enclausurar.
O amor contém anticorpos, suporta a febre, reprime a dor, cura.
O amor é como o funcionamento dos rins, é como a sustentação que os ossos dão.
O amor pode parecer fraco com o passar do tempo, mas é realmente como o corpo: parece velho, mas isso é só o desgaste causado pelo tempo, é só experiência, só sabedoria.
O amor vai ainda mais fundo, ele é o fator não detectável, nada microscópico, ele  é crença, é decisão, é a ALMA.