Ana Vífer

Ana Vífer

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Meu parto

Saí de casa numa quarta-feira fria pela manhã decidida a não deixar fazerem cesárea e nem episotomia em mim. Orei e pedi a Deus um parto normal durante toda a gestação. Ao chegar no hospital, depois de alguns exames pré-parto, começamos o processo de indução. Eu estava com 41 semanas e meu colo do útero era muito grosso, não existia uma chance saudável de ter meu bebê como eu sonhava. No exame pré-parto o tampão caiu e um dedo e meio de dilatação surgiu, eu acreditei ser uma boa notícia e no fim, era mesmo.
Depois de 1 hora de indução, mais ou menos, comecei a sentir as primeiras contrações leves e irregulares, mas após 4 horas com as dores aumentando muito, eu permanecia com dois dedos de dilatação. Às 14h00 eu já estava delirando de dor, não estou sendo dramática, eu me via nos corredores do hospital do Dr. House. Entre as contrações eu dormia de exaustão. Meu marido vinha me ver e eu chorava. As enfermeiras tentavam me acalmar, mas eu não queria mais um parto normal, eu já tinha desistido, mas graças a Deus um médico muito doce me acalmava e me dizia que eu era forte, que eu era capaz. Às 19h00 eu estava com 4 dedos, completamente fora de mim, as dores eram tão fortes que eu achava que ia morrer (muitas mulheres têm esse sentimento). Por ser um parto induzido, não poderia levar nenhuma anestesia para aliviar a dor e o comprimido continuava a suavizar o colo do meu útero causando dores ainda mais fortes. Em um certo momento de lucidez, eu orei ao Senhor e pedi que Ele me desse forças e que fizesse a vontade dEle para a nossa saúde quando ouvi um médico dando dicas a uma outra mãe de parto induzido, dizendo “faz força de cocô!”. Eu pensei: é isso!
Eu não sabia como estava a minha dilatação, mas fiz essa força mesmo assim, nesse momento eu já estava recebendo o soro com ocitocina. Então cada contração, eu fazia uma força maior até que veio a boa notícia, nove dedos de dilatação! Eu soube que conseguiria.
A sala pré-parto estava à meia luz, eu estava sozinha, todas as parturientes que passavam pela sala saíam para ter seus filhos e eu estava ali há 11 horas e meia tentando parir o meu, confesso que senti inveja. Lembro-me de ter xingado a Eva, aquela Eva que pecou no paraíso, xinguei de maldita e os médicos riram, eu estava falando sério, mas eles acharam engraçado.
Então o médico esperou que as contrações dessem uma pausa, fez um último toque e me disse que a bolsa havia estourado e a cabeça do Lucas estava saindo. Fomos para a sala de parto e eu disse que não ia parir esse moleque sem meu marido por perto. Rapidamente meu amor apareceu, a força que eu precisava. A mão dele era tudo que eu queria sentir naquele momento. Eu olhei o rosto dele e fiz 3 forças sobre-humanas e ouvi o choro escandalosos do meu filho. Decorei aquele choro no momento que ouvi. Quando peguei meu filho nos braços um sentimento que só quem é mãe sabe brotou dentro do meu peito. Eu havia pedido a Deus para não me esquecer, mesmo na dor extrema, de abençoar meu filho. Eu vi meu marido indo até meu filho que estava sendo limpo pela enfermeira saltando de alegria. Então quando me trouxeram ele, eu disse “bendito seja o nome do meu Deus Criador! Eu te abençoo, meu filho em nome de Jesus... você vai ser uma benção por onde você for.” Desde aquele momento, não tiraram mais ele de perto de mim.
Meu bebê nasceu cansado, teve que tomar oxigênio. Mas é um meninão, de 3,555 kg e 49,5 cm. No primeiro banho dado pela enfermeira, ouvia-se de longe o choro potente dele (para quem não tinha muito oxigênio...) e ele ficou conhecido como o bebê bravo. Sempre de sobrancelhas cerradas e um biquinho mal-humorado.
Depois que o parto passou, eu vi que o normal foi a melhor escolha mesmo no momento de dor eu tendo desistido dele. Depois de 1 hora, lá estava eu tomando banho sozinha, andando com o Lucas no colo e fui a primeira (depois da enfermeira) a dar banho no meu filho. Estou me recuperando ainda dos pontos que levei porque na saída do Lucas houve laceração interna e externa e eu não fui submetida a episotomia como eu havia pedido a Deus.
Depois dessa experiência que parece ser traumatizante, juro que não me lembro como é a dor, só sei contar, mas não lembro como é sentir e já estou planejando o próximo filho certa de que por mim será um parto normal.
Na maternidade eu conheci muitas mães, mães de filhos vivos e mortos, mães de gêmeos, mães que tiveram parto normal tranquilo, difícil, induzido como o meu. Mães que tiveram cesáreas agendadas ou de emergência e todas elas tem algo em comum: sofreram de alguma forma para parirem seus filhos. A cesárea não é mais fácil que o parto normal, é um sofrimento e uma dificuldade diferente. Exige repouso, não pode levantar a cabeça, você fica dependente. Não pode tomar o primeiro banho sozinha, sem contar o acesso venoso que não pode ser retirado, então manusear o bebê é um desafio, mas elas fazem tudo por amor aos seus filhos. Às mães e pais que perderam seus bebês por uma fatalidade, eu desejo que o Senhor leve conforto e paz, as mães infectadas por alguma doença, eu peço a Deus saúde e misericórdia, às que quase morreram num parto de emergência, desejo que não fique nenhum trauma. Às que não tiveram acompanhante e permaneceram sozinhas por não ter uma família, desejo que o Deus da família lhes conceda essa graça. À todas as mães que conheci, desejo que Deus as abençoe sempre. 
Eu louvo a Deus por tudo, ao escrever é inevitável que as lágrimas não venham. Valeu a pena tudo, valeu a pena mesmo! Sou muito grata o Senhor pelo parceiro que Ele me deu, um paizão para o meu filho. Um marido excelente, carinhoso e prestativo. Minha família é a realização de um sonho que eu tinha em conjunto com o Senhor.

“Portanto, quer comais quer bebais, ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para glória de Deus. – 1 Co 10:31”. Eu tive um filho para a glória de Deus!