Ana Vífer

Ana Vífer

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

A velha.

Eu não quero envelhecer porque deixei meu orgulho ser mais importante que o amor das pessoas ao meu redor. Eu não quero envelhecer porque me alimentei de angústia, miséria e solidão.
Eu não quero ser a pessoa que se vê como alguém inatingível, impecável e ser seletiva a ponto de não conseguir aprofundar relações.
Não quero ser a pessoa cheia de manias, de jeitinhos e preferências a ponto de que não suportem viver ao meu lado.
Não quero ser necessitada de atenção a ponto de ser motivo de dó, nem quero uma aceitação forçada.
Não quero envelhecer sendo complexa demais, cheia de "não-me-toques", não quero ser repelente de gente.
Não quero deixar que um dia a arrogância me crie raízes na face, acima da testa, um ninho de rancor e altivez. No canto dos olhos, linhas de lágrimas e exposição à maldade.
Não quero ser a mulher invejosa que quer o que a outros pertencem, não quero envelhecer sob uma cadeira de balanço do "se eu tivesse".
Não quero passar meus dias desfrutando só de mim, e me auto-sugando completamente, esgotando minhas fontes internas por não saber saborear o que há nas pessoas.
Não quero fazer do amor um sentimento fútil, nem uma coisa desnecessária.
Não quero ser a velha vazia, de cabelos brancos sob os ombros, que rega suas plantas já mortas. Não quero ser a velha que cheira a naftalina, de espírito oco e olhar opaco.
Antes, quero amar as coisas simples, salpicar sobre meus sonhos pessoas especiais. Quero cultivar as amizades produtivas e as pessoas que não me quiserem por perto, entenderei como questão de afinidade e as respeitarei.
Quero ser leve, flutuante mediante a velhice do mundo ao meu redor. Procuro ser todos os dias a menina do balanço, de tranças em um dia ensolarado que pisa na grama, que tem limites altos, um perdão abrangente, uma alma cativa pela compreensão, um coração alado com esperança e boa vontade.
Diante de tantos "nãos" que receberemos da vida, algo precisa ser positivo, como o sinal nos cantos da boca, de uma boca que muito sorriu.
Ah! Eu não quero padecer em preocupação com a maneira que me vêem e se realmente se importam, de fato eu me importo com alguém e é isso que faz bem, saber que estou praticando algo bom ainda que não façam comigo o mesmo.
Não, não quero que se sitam mal quando eu não for exatamente o que procuram, sempre haverá um lugar ao sol para quem vive para viver.
Quando eu envelhecer de corpo, meu espírito novo estará.