Ana Vífer

Ana Vífer

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Vazio.

Existe um tipo de vazio que de tão vazio não tem nome. Não é de espírito, não é nada da alma, com certeza é do coração.
Essa incompletude, essa controversa satisfação estará sempre vinculada à uma saudade de algo que ainda não conheci e que não faço idéia de quando conhecerei. É bom sentir um espaço dentro de mim que causa uma busca, me faz mais apta a conseguir o que sonho. Mas sentir esse vazio também me dá um nó na garganta e dá a dor de uma ausência sem remetente.
É tão estranho esperar por algo desconhecido e me pegar durante os inícios das manhãs idealizando e imaginando, fugindo e relutando, para não criar na cabeça um tipo ideal de pessoa a quando tiver nas mãos o necessário, destrair-me e desperdiçar o amor pelo superficial desejo de ter aquilo que sonhei... Futilidades à parte, ele deve ser para mim e não idealizado por mim.
E quando dizem que tá cedo, que eu não devo me preocupar, vêem em mim uma menina em pleno vôo em destino às oportunidades da vida, pronta para desfrutar de tudo que bons estudos e um bom trabalho podem dar. Pessoas tão vazias quanto eu, vislumbrando para o outro um conforto financeiro, esquecendo-se do amor, relevando a finalidade dos sentimentos de pessoa para pessoa.
Eu me recuso a fazer parte dessa massa, eu preciso do calor de pés quentinhos ao lado dos meus, da esperança de ser somada homogeneamente a uma outra vida, fazer com que minhas mãos tenham passarela de uma face ligeiramente barbada e alvinha para desfilarem em curso terno e passivo.
Ser mãe e ter problemas com o sono por conta do bebê que dá trabalho, pessoas que eu possa alimentar e que me requisitem o tempo inteiro - "Mãããe! Amooor!" - perguntas que irritariam qualquer pessoa, me fariam disseminar um amor fiel - "Onde você colocou aquele comprovante?", "Mãe, fez meu lanche?".
Meu grande objetivo na vida é o amor como um todo, as demais coisas tenho capacidade física e intelectual para conseguir, mas o amor... ah, o amor... Este tem vontade própria, ele mesmo se encarrega de chegar ou de partir. Ainda que pareça longe, carrego essa lacuna a ser preenchida com fidelidade. Esse pedaço aqui, que limpei tão bem ao longo do tempo tem destinatário desconhecido, mas há de ser ocupado não por regra e nem por excessão, mas por vontade e necessidade do amor.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Valei-me, Deus!

Ele alí parado, safo, contido
Eu aqui solta, aberta, doce
Quisera eu dizer não, mentido
Devia ele ter me deixado, que fosse
Fosse ele para longe dos anseios apaixonados
Reservando meu coração da dor, de olhos marejados

Não teve dó, nem pesar
Não vi o nó, não pude pensar
Tornou-se simples me machucar
Valei-me, Deus! Deveras as dores hão de larejar

Agora que tenho memórias de um amor morto
Cuide para não ser alvo da flecha deste
Desvie do caminho curto e torto
Porque a misericórdia da vida perdeste
Ao plantar no coração de uma mulher a sina
De não sentir mais amor como uma menina

Vá em paz, me deixe assim
Tenho algo melhor, um sonho, um Deus
Um destino sorrindo pra mim
Um homem, filhos só meus

Ora, que o céu não enegreça como anda o meu
Mas que tenhas êxito, que se endireite
Que compreendas as mazelas ao que o amor se rendeu
E que em seios castos se deleite
Pois o ontem onde fostes rosa não existe mais
Cravo és, maria-sem-vergonha na beira do cais

Lembrarei menos de ti, viverei o porvir
Com gestos de esperança, canto de prazer
Amanhã hei de novamente sorrir
E desse adeus definitivo fatalmente me esquecer.