Ana Vífer

Ana Vífer

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Um amor, só por hoje.

É preciso tomar cuidado para não perder a sensibilidade de achar beleza no rostinho de uma criança, aquela sensação de que todos os bebês são lindos não por causa de beleza meramente visual, mas aquela beleza da pureza do rosto de uma criança.
É preciso tomar cuidado com a falta de percepção da tristeza de alguém, com o fato de ignorar a dor de alguém e tentar não deixar a frieza nascer dentro do coração.
As pessoas estão sendo críticas com amor, com demonstração de afeto. Não se pode mais expressar o amor pelos filhos demasiadamente como se o amor fosse mensurável para uma mãe. Não se pode mais demonstrar carinho por um cônjuge como se isso fosse um atentado a ordem pública. Os romances viraram marketing e mero sexo, as crianças viraram seres irritantes que choram e fazem arte e o mundo está sendo populado por robôs sem sentimento e sem sensibilidade.
Não se percebe mais uma florzinha nascendo no asfalto em uma cidade suja, e é assim que o amor está, sendo oprimido pela dureza do concreto da parcialidade emocional.
Maridos não beijam mais suas esposas, filhos não sentem mais falta dos pais (em vida), mães colocam seus filhos em milhões de atividades extracurriculares para terem mais tempo para si e já nem sabem mais qual a cor preferida de sua criança. Pais se separam sem perceber a dor que seus filhos carregarão para a vida, avós são esquecidas. Romance? Pra que? Pra enriquecer lojistas no dia dos namorados?
Homens não compram mais lingeries pras esposas, não se importam mais com manter a harmonia e a funcionalidade do seu lar, sequer trocam a lâmpada que queimou. Esquecem daqueles dias de sono perdido com o coração batendo forte de paixão pela amada e o pior de tudo é que não fazem nada para resgatar o que se perdeu.
Esposas dão tanta importância para a independência que esquecem as vantagens de serem cortejadas, desejadas, e dependente no melhor sentido da palavra.
Filhos se esquecem que a vida dos pais é finita, e que um dia vão sentir profundamente e irremediavelmente a dor da partida de seus pais dessa vida. Ainda não aparentemente não sejam bons pais, no fim, vai doer e o remorso vai aparecer.
Pais se esquecem de ter um papo agradável com seus filhos, sobre os interesses de seus filhos. Sem cobranças sobre escola ou trabalho, só um papo leve sobre aviões, música, esportes ou vídeo games.
Mães se esquecem de dizer às filhas que elas são lindas, que sentem felicidade de tê-las colocado no mundo. Não falam sobre cabelos e esmaltes, meninos e roupas.
Tudo muito vago, muito mecânico. Acorda, criança na escola, trabalho concluído, casa, afazeres domésticos, contas, sono e terminou o dia.
Falta perdão, reconciliação, vontade de voltar atrás. O orgulho anda devorando as pessoas, são ocas. Não amam mais, não desculpam mais, não desejam mais (só dinheiro, isso desejam).
E eu me pergunto se vamos congelar de uma vez, se vamos virar seres dotados de todos os tipos de mecanismos de defesa e ataque possíveis. Me pergunto se vamos encarar sempre o outro como um elemento complementador do andamento sociológico normal e não como os grandes amores de nossas vidas, as pessoas que amamos, nossas famílias, nossos filhos amados, maridos desejados, esposas maravilhosas, e pais muito queridos.
Só por hoje desculpe, perdoe, afague, esqueça a implicância. Só hoje é bom fazer um esforço, não deixar isso para o Natal ou para a morte. Só hoje, como os dependentes químicos em recuperação que fazem a mesma tentativa todos os dias, deixe a frieza de lado, só por hoje ame!

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