Ana Vífer

Ana Vífer

terça-feira, 15 de abril de 2014

Quando uma amizade termina.

Uma amizade pode começar de muitas formas. Algumas vem da amizade de duas mães que criam seus filhos juntos e fazem deles grandes amigos. Pode vir da escola, das brincadeiras de rua, da igreja, do judô, da academia, de um bar. Pode vir do amigo de um amigo, do namorado de uma amiga, de uma coincidência no ponto de ônibus ou de uma briga de trânsito. Pode nascer de uma raiva, ou de uma antipatia que vira do avesso e surpreende em amor.
Mas também pode acabar em uma traição, em um descaso, na separação de corpos pela distância, com o desrespeito, por causa do cônjuge, por causa da família, por causa de preconceito, de falta de caráter, de mentira ou preferências. Podem ser coisas sérias ou banais, mas amizades acabam.
O mais engraçado é o efeito que isso pode surtir em uma pessoa. Geralmente no início ficamos sentindo falta, como se algo estivesse muito errado e fora de contexto. A vida muda, os roteiros mudam. Lugares deixam de ser frequentados, colegas deixam de ser cumprimentados, músicas saem de playlists, como uma separação de casais. Ou quem sabe, só não se falam mais, nada muda na rotina, mas por dentro, a casa ficou com cheiro de livro velho e o quintal criou erva daninha.
Se desfazer de uma amizade por defesa ou ver alguém se desfazer de você por capricho é ruim, não importa qual o grau de rompimento, alguma coisa dentro fica oca.
Porém, estar de fora te cura. Ver de outro ângulo ajuda, limpa, acalenta. Desfaz preferências e te renova, te deixa pronto pra novidade.
Quando você já não é mais amigo, você percebe que não fazia tanta falta assim, começa ver os defeitos insuportáveis e entende que se a vida levou embora é porque não acrescentava muita coisa.
Você vê que aquele jeito de falar era mesmo um pouco de arrogância, que aquele hábito era uma mania chata, que a tristezinha era excesso de melancolia e complexo de inferioridade, que aquela desculpa era uma grande mentira. Que você foi paciente, mas que agora consegue lidar com essa distância.
Há quem diga que essa aversão que nasce depois da separação é um mecanismo de defesa, mas eu acredito que isso é um tipo de "óculos" que deixa nossa percepção mais aguçada. Ou talvez a falta de amor verdadeiro nos deixe mais descrentes das qualidades da pessoa que se vai.
É importante só não deixar que essa visão ampla nos deixe raivosos, implicantes a ponto de perder a educação e a racionalidade. Como quem não é mais amigo e acha defeitos em tudo a outra pessoa faz, ou quem começa a fazer coisas e dizer coisas só para contrariar o outro, isso baixa o nível.
Mas eu acredito que no desfazer de uma amizade há uma parte muito boa, que é a devolução do nosso senso crítico e a capacidade de escolher refazer ou não aquela amizade, avaliar se vale o reinvestimento ou se deve realmente ser deixado de lado.
É bom lembrar que sem uma explicação de fácil compreensão, Deus por muitas vezes tira gente boa do nosso caminho simplesmente porque a junção de quem somos com quem elas são não dá um bom resultado. Vale ressaltar também, que todo o tempo nessa vida é insuficiente para conhecer alguém completamente e que temos que saber quem colocamos em nossa casa, em nossa família, em nossas escolhas, em nossa intimidade.
Às vezes por ser diferente da expectativa de um amigo, você vai ser deixado de lado. Por ser mais ou menos conservador, por ser mais ou menos altruísta, por ser mais ou menos inteligente ou por qualquer coisa do gênero. Mas também temos que lembrar que sempre, não importa quando ou como haverá um amigo certo para nós além de Deus que é o melhor amigo que se pode ter por ser multiforme em personalidade e imensurável em compreensão.
Um amigo bom não é necessariamente igual a você e nem pode ser completamente diferente. Uma amizade por ter início e fim ou pode durar uma vida toda. Não dá pra saber ao certo, isso é incalculável. O que dá pra saber é que nenhum investimento é perdido quando se trata de amigos, por mais que eles não mereçam nada do que você fez, existe um crédito que fica pairando no coração de Deus pela sua boa vontade e pelo amor oferecido.
Se um amigo resolver ir embora ou se afastar de você, entenda, Deus está te dando uma oportunidade de entender a ótica dEle, quer que você veja além do sentimentalismo, mas que veja as coisas com clareza e quando você for capaz de distinguir o bom e o ruim que há naquela pessoa, você pode repensar sua amizade e decidir se vale o esforço de reconquistar/reatar ou se é melhor deixar que a vida siga seu curso e você conheça outras pessoas que preencham seus dias.
Não é deixar de amar, sentir raiva ou desprezo, é amar de longe querendo o bem sempre, mas evitando intimidades para não se machucar e nem machucar a outra pessoa.

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